terça-feira, 8 de novembro de 2011

10 perguntas sobre a virada energética

As respostas mais importantes: como a Alemanha quer abandonar a energia nuclear e ajudar a dar impulso às energias renováveis.
Como funciona exatamente a virada energética?
As fontes de energias renováveis deverão substituir pouco a pouco as usinas nucleares a serem desativadas até 2022. Quando e quais usinas nucleares serão desativadas depende da respectiva avaliação de risco e da importância da usina para a rede elétrica. A Agência Federal de Redes (Bundesnetzagentur) verifica se uma usina nuclear deve ser provisoriamente mantida como uma “reserva fria”. Para recompensar a perda de renda, as usinas nucleares ficarão isentas de contribuições destinadas ao fundo “Energie- und Klimafonds” do governo federal alemão. Para repor a falta destas contribuições, o fundo receberá diretamente, a partir de 2012, todas as rendas federais da venda de certificados de emissões. O fundo promove a pesquisa de energias renováveis, de tecnologias de armazenamento e redes de energia, de mobilidade elétrica e de medidas para a eficiência energética. Além disso, ele deverá assegurar a indústria energética intensa e dar apoio às iniciativas da proteção do clima em países emergentes e em desenvolvimento e em países da Europa central e oriental.

Quais são as consequências da virada energética para a infraestrutura?
Dado que a energia nuclear deixa de existir, temos que dar a maior eficiência possível às energias restantes. Uma ampliação da rede elétrica é imprescindível. Os primeiros Estados a desativar suas usinas serão os do sul (Baden-Württemberg, Baviera, Hessen). Portanto, é muito importante que principalmente a energia eólica, gerada no norte, chegue ao sul da Alemanha sem sofrer perda. Depositam-se esperanças na transferência da corrente contínua de alta voltagem, através da qual a energia elétrica pode ser transportada a longas distâncias quase sem perda. Para que a ampliação da rede seja transparente, a Agência Federal de Redes já obteve propostas dos cidadãos através de uma sondagem pública. O Ministério Federal da Economia vem promovendo pesquisas intensas sobre redes inteligentes (“smart grids”), as quais podem nivelar as oscilações na produção de eletricidade proveniente das energias renováveis, reagindo assim com flexibilidade frente ao consumo. O objetivo é passar da “produção de eletricidade orientada no consumo” ao “consumo com a melhor produção possível”.
Que fontes de energia podem substituir as usinas nucleares?
A grande meta é o maior número possível de energias renováveis. A caminho desta meta, as centrais elétricas a combustíveis fósseis deverão servir de ponte tecnológica. A eficiência das centrais térmicas a carvão mineral na Alemanha é hoje uma das mais altas do mundo. Além disso, a Alemanha é também líder mundial no desenvolvimento de centrais térmicas mistas de gás e vapor. Mesmo assim, o plano energético do governo federal alemão aposta principalmente nas energias renováveis, cuja participação no consumo final de energia (eletricidade, calor, combustível) deverá atingir 30% até 2030, 45% até 2040 e 60% até 2050. A maior importância neste particular é assumida pela força eólica que possui em alto mar um potencial ainda maior, até hoje não explorado. Quanto à fotovoltaica, já agora muito explorada, estão sendo planejadas medidas diretas para sua integração na rede. Enquanto a participação da bioenergia e da geotermia deverá aumentar, parece que os potenciais hídricos na Alemanha já estão rela­tivamente esgotados.
Que inovações no campo das energias renováveis na Alemanha estão prestes a ter grande avanço?
O Ministério Federal da Pesquisa promove amplas inovações nos setores das energias renováveis, desde o desenvolvimento de células solares orgânicas eficientíssimas até novos processos de reconhecimento sobre a produção geotérmica de eletricidade. O Ministério Federal do Meio Ambiente também apoia inúmeros projetos. Desta maneira e em cooperação com instituições alemãs de pesquisa, a GE Wind Energy GmbH pôde testar com sucesso projetos de instalações eólicas mais silenciosas. A redução de ruídos facilita a aceitação das instalações pela população. Os pesquisadores do Centro de Pesquisa de Energia Solar e de Hidrogênio, de Baden-Württemberg, apresentaram em 2010 uma célula solar de filme fino com uma efetividade de 20,3%, batendo o recorde mundial. Sob a direção do Instituto de Construção Arquitetônica da universidade de Stuttgart foi desenvolvido há muito tempo um sistema de coletores solares que não apenas transforma eficientemente a luz solar em calor, mas também possibilita, ao mesmo tempo, a proteção contra os raios solares e a condução da luz natural.
Como a Alemanha investe em energias alternativas?
Apesar da crise econômica e financeira no mundo todo, os investimentos nas energias renováveis na Alemanha aumentaram 30% em 2010, frente ao ano anterior. Com quase 27 bilhões de euros, foi batido um novo recorde. O governo federal alemão presume que cerca de 90% dessa soma foram possíveis graças à Lei das Energias Renováveis (EEG). A emenda da EEG, ratificada em consequência da virada energética, prevê incentivos extras das energias alternativas. Um programa de crédito de cinco bilhões de euros fomenta a construção de instalações eólicas em alto mar. O subsídio para a eletricidade geotérmica deverá aumentar claramente, para que a tecnologia, ainda em desenvolvimento, possa se tornar mais atraente. O governo federal disponibiliza cerca de 3,5 bilhões de euros de 2011 a 2014 para a pesquisa e o desenvolvimento de modernas tecnologias energéticas.
Quais são as chances econômicas oferecidas pela virada energética?
Atualmente, o ramo das energias renováveis já está gerando empregos para quase 370 000 pessoas na Alemanha. Segundo o Ministério Federal do Meio Ambiente, este número poderá aumentar para 500 mil até 2030. Claudia Kemfert, perita em energia do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), vê também na virada energética grandes chances de crescimento em ramos do meio ambiente, como o tratamento de resíduos, a reciclagem e o tratamento da água. Em geral, segundo Kemfert, a virada energética poderia gerar um milhão de novos empregos. As empresas alemãs lideram internacionalmente o ramo das energias renováveis. E graças à eficiente exportação de instalações e componentes, elas também aumentaram seu volume de vendas de 8,6 bilhões de euros em 2005 a 25,3 bilhões de euros em 2010. A virada energética deverá contribuir essencialmente para que este ramo continue crescendo.
O que acontecerá com as usinas nucleares quando elas forem desativadas?
Elas serão desmontadas. Primeiramente, todas as barras de combustível nuclear radioativo são armazenadas provisoriamente, para depois serem armazenadas na destinação final. Para desmontar a usina nuclear, já em grande parte livre do seu inventário radioativo, há duas possibilidades: a desmontagem direta ou a sua vedação segura e posterior demolição. A desmontagem de usina nuclear ocorre de fora para dentro, das tubulações até o vaso de pressão do reator. Depois da desmontagem deste, é feita a limpeza das partes vazias do prédio. Se não houver mais perigo de radioatividade, o prédio é demolido e o terreno é recultivado, ou seja, é restaurado ao estado natural original. Isto já foi feito na Alemanha, por exemplo, com a usina nuclear de Niederaichbach, desativada em 1974, ou com a primeira usina nuclear alemã, a usina experimental de Kahl.
A Alemanha comprará futuramente mais eletricidade nuclear do estrangeiro?
Fato é que a importação de eletricidade nuclear aumentou na Alemanha, após o país ter desativado sete usinas nucleares, reagindo à catástrofe nuclear de Fukushima no Japão. Mas para o governo federal alemão, esta não é realmente uma alternativa, dado que o abastecimento energético também está assegurado sem as usinas até agora desativadas. No comércio de eletricidade internacionalmente interconectado, os volumes de importação e exportação oscilam regularmente. Um vento forte na Alemanha, por exemplo, já a torna imediatamente um país de exportação. Além disso, o número das instalações de força eólica deverá aumentar claramente nos próximos anos. Basicamente, as fontes de produção de eletricidade têm consequentemente que continuar sendo as energias renováveis, para que o país não se torne dependente de importações. A eletricidade de energias renováveis tem prioridade para o governo federal alemão.
O que se deve fazer com respeito à eficiência energética?
Ainda continua se desperdiçando energia demais. Apenas as habitações consomem 40% da energia na Alemanha. Isto deverá mudar. 20% da necessidade de calor dos edifícios deverão ser economizados até 2020. A casa neutra em emissão deverá ser padrão. Em 2050, as fontes renováveis deverão fornecer toda a energia necessitada pelos prédios. Criando um novo Fundo de Eficiência Energética, o governo federal alemão vem incentivando medidas, como o saneamento energético de prédios e a verificação da economia de energia e eletricidade de domicílios privados. Quem consegue reduzir efetivamente o consumo de energia da sua casa recebe ajuda estatal. Mas a eficiência também é o objetivo da nova “Iniciativa de Incentivo ao Armazenamento de Energia“, que dispõe de um volume inicial de 200 milhões de euros, tendo em vista fortalecer a pesquisa de base, para excluir perdas evitáveis no ciclo de energia.
Como é o empenho internacional da Alemanha quanto às energias renováveis?
A Alemanha aposta nas parcerias internacionais. Um exemplo excepcional é a Parceria Energética África-UE, instituída em 2007 sob a presidência da Alemanha. Em 2010, esta cooperação fez um acordo para possibilitar a outras 100 milhões de pessoas na África o acesso sustentável à prestação de serviços no setor energético. O Ministério Federal para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento e a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GTZ) são membros fundadores da “Aliança Global para Fogões Limpos”, empenhando-se no incentivo do aproveitamento inócuo da madeira e no emprego de fontes energéticas alternativas, como o biogás. Além disso, a Alemanha presta apoio ao Plano Solar Mar Mediterrâneo e à iniciativa de eletricidade do deserto Desertec. Devido à importância da energia quanto à mudança do clima, este também é um dos temas centrais da política exterior alemã, tanto que a Alemanha se empenhou, durante sua presidência no Conselho de Segurança da ONU, em que o grêmio reconhecesse a mudança do clima como risco de segurança, o que aconteceu em julho de 2011.

Fonte: Magazin Deutschland

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